sábado, 11 de setembro de 2021

Mulheres indígenas se mobilizam em defesa de seus corpos, territórios e direitos originários

Mulheres do Povo Huni Kuin da Amazônia Acreana compartilhando seus cantos tradicionais. Foto: Silvia Zonatto
Silvia Zonatto

Chega ao fim neste sábado (11), em Brasília, a 2ª Marcha das Mulheres Indígenas, que em 2021 teve como tema “Mulheres originárias: Reflorestando mentes para a cura da Terra”. O evento, que começou na última terça-feira (7), no complexo cultural da Funarte, reuniu, segundo a coordenação da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), cerca de 5 mil mulheres de 172 povos de todos os biomas do Brasil. O evento chama a atenção do País e do mundo trazendo pautas como a emergência climática, a violência de gênero, o marco temporal e a demarcação de terras indígenas.

Para garantir a segurança sanitária do evento, todas as pessoas acampadas passaram pelo processo de credenciamento, onde foi verificado se cada participante estava imunizado com a vacina contra o covid-19 e também realizado teste para diagnosticar o vírus.

Os dois primeiros dias, terça e quarta (7 e 8), foram marcados pelas apresentações de cada delegação que chegava ao acampamento, compartilhando cantos, rezas e danças tradicionais do seu povo. Na quarta, no palco da plenária, foi realizado um ato em memória das meninas indígenas Daiane Griá Sales e Raissa Silva Cabreira, brutalmente assassinadas neste ano. “As pessoas que mataram Raissa e Daiane matam um pouco de todas nós, matam um pouco da Mãe Terra. Precisamos sair daqui com um compromisso coletivo que nós não silenciaremos diante da violência aos corpos das mulheres indígenas. Precisamos, urgentemente, reflorestar mentes e corações”, afirmou Célia Xacriabá, uma das coordenadoras da ANMIGA.

O ato emocionou todas as presentes e, mais uma vez, foi reafirmada a importância do combate à violência contra as mulheres indígenas e da criação de políticas públicas que protejam seus corpos do machismo colonial e patriarcal. Após o ato, mulheres do povo Kariri do Ceará realizaram uma performance com barro buscando provocar e conscientizar os presentes sobre a ligação das mulheres com a Mãe Terra e a fetichização do corpo indígena, que muitas vezes leva a casos de violência sexual.

Na quinta feira (9), a manhã foi marcada pela recepção de diversas mulheres indígenas de outros países que compõem organizações que lutam contra o extrativismo, o capitalismo exploratório e a violência contra as mulheres. O debate na plenária girou em torno de um pacto de aliança global para combater o aquecimento e a destruição do planeta.

Já durante a tarde, uma das principais pautas do encontro foi a discussão sobre o Marco Temporal, que teve seu julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) transmitido em telão, na tenda central do acampamento. O espaço foi completamente tomado por cantos e danças de celebração de diversos povos após o voto do ministro Edson Fachin contra a tese do Marco Temporal. Ele é o relator da ação e foi o primeiro e único dos dez ministros a expor sua manifestação. O julgamento que decidirá o futuro dos territórios indígenas no País será retomado pelo STF na próxima quarta (15).

A marcha que sairia às ruas na quinta, passando pela Esplanada dos Ministérios, foi suspensa em função do clima violento instaurado pelos atos em apoio a Jair Bolsonaro, que também expressaram ódio aos povos originários e pediram pelo impeachment de ministros do STF. Parte do grupo bolsonarista que viajou a Brasília para o ato do dia 7 de setembro permaneceu capital federal, em um acampamento próximo ao Congresso Nacional, obstruindo a Esplanada dos Ministérios. Carros e caminhões com bandeiras em apoio ao presidente circularam ao redor do acampamento das mulheres indígenas. Além disso, houve uma tentativa de invasão da área ocupada pelas indígenas por dez homens na madrugada de quarta.

Depois disso, ações foram tomadas para reforçar ainda mais o trabalho da equipe de segurança coordenada por Shirley Krenak, uma das lideranças da ANMIGA. A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal informou que havia tentado remover os bolsonaristas da Esplanada, mas não obteve sucesso, e por essa razão não tinha como garantir a segurança da marcha das mulheres, caso houvesse um conflito durante a caminhada. Após uma assembleia realizada no acampamento, foi decidido que a marcha sairia às ruas na manhã desta sexta (10), e que as informações sobre o trajeto estariam restritas à coordenação do evento.

A marcha saiu do acampamento da Funarte e seguiu até a Praça do Compromisso pela W3 Sul, retornando pelo mesmo trajeto. Ao longo do caminho, cantos tradicionais invocavam a presença espiritual dos ancestrais e gritos coletivos de “Fora Bolsonaro” e “Demarcação Já” pediam o impeachment do presidente e afirmavam a urgência pelo respeito aos seus territórios tradicionais e modos de vida.

Ao chegar na Praça do Compromisso, Sonia Guajajara, afirmou em seu discurso: “Estamos aqui para dizer não ao Marco Temporal, não ao projeto de lei da grilagem, pra dizer que não vamos aceitar invasores, garimpeiros e madeireiros nos nossos territórios. Somos contra a mineração que estupra a terra e o projeto de Lei 191 que está no Congresso Nacional e querem aprovar a qualquer momento. Somos contra o projeto de Lei 490 que premia grileiros e abre a porteira pra ‘boiada’ passar e a motosserra derrubar. Nós não vamos deixar os tratores do agronegócio destruir os nossos territórios.”

Uma das mais conhecidas lideranças nacionais entre as mulheres indígenas, Sonia chamou atenção também para a violência de gênero. “Vamos continuar marchando pra que nenhuma de nós fique no meio da estrada, pra que nenhuma mulher mais seja violentada e assassinada. Nós vamos lutar contra o feminicídio indígena. Não queremos mais ver nossas meninas, jovens e mulheres assassinadas em nome do patriarcado que entrou nos nossos territórios. Nós vamos continuar e estaremos de volta em Brasília em 2023. Estamos hoje em 5 mil, mas será cada vez maior, até que sejamos todas as mulheres indígenas do Brasil em marcha contra o preconceito, contra o racismo, contra o machismo.”

Uma das mais conhecidas lideranças nacionais entre as mulheres indígenas, Sonia chamou atenção também para a violência de gênero. “Vamos continuar marchando pra que nenhuma de nós fique no meio da estrada, pra que nenhuma mulher mais seja violentada e assassinada. Nós vamos lutar contra o feminicídio indígena. Não queremos mais ver nossas meninas, jovens e mulheres assassinadas em nome do patriarcado que entrou nos nossos territórios. Nós vamos continuar e estaremos de volta em Brasília em 2023. Estamos hoje em 5 mil, mas será cada vez maior, até que sejamos todas as mulheres indígenas do Brasil em marcha contra o preconceito, contra o racismo, contra o machismo.”








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