Na propaganda que passa todos os dias nos meios de comunicação, o aluno poderá escolher o que vai querer estudar durante o ensino médio. Mas, a realidade será outra, diz a professora de Geografia, Socorro Ramalho. Em entrevista nesta terça-feira (27), a docente explicou que o novo ensino médio proposto pelo Ministério da Educação (MEC), permanecerá com as disciplinas obrigatórias da Base Nacional Curricular Comum (ABNCC) e aumentará de 800 horas para 1200 horas ao ano, a carga de aula do estudante. "Além de estudar as disciplinas tradicionais, o aluno poderá escolher a área que tem afinidade para se aprofundar", comentou.
"É um momento em que a gente está ainda em uma pandemia, discutindo os conteúdos que estão atrasados por causa de toda a crise, vem um programa de cima para baixo que propõe aumento de carga horária, e mudanças estruturais na educação. Se for parar melhorar, ele será muito bem-vindo. No entanto, o que estamos observando é que o programa exige uma série de mudanças em um cenário de pouco ou nenhum investimento para a educação, quando escolas estão abandonadas e sucateadas", avaliou.
Segundo ela, existe a possibilidade do aumento da evasão escolar, uma vez que, com o aumento da carga horária, e com as escolas sem a estrutura adequada, haverá dificuldades para a efetivação do processo de adaptação. "Você percebe como é contraditório esse novo ensino médio? Querem exigir algo quando não dão nem o básico a esse estudante. Se não houver investimentos que garantam uma infraestrutura capaz de possibilitar as ferramentas de estudo aos alunos, como querem cobrar uma carga pesada aos estudantes, mas não apresentam uma contrapartida, seja para melhorar as escolas ou garantir o básico a esses alunos. Atualmente são 800 horas anuais que o aluno tem que assistir, e isso passará para 1.200 horas. As escolas terão que estar bem mais equipadas para dar o suporte necessário ao aprendizado desse aluno", destacou.
Socorro destacou também a entrega de um documento ao governo da Paraíba, nesta terça-feira (27) com uma série de reivindicações. Entre elas, a prioridade da discussão sobre esse novo programa que tem o prazo até 2022 para ser implementado nas escolas de todo o país.
"Muito preocupa esse debate de novo ensino médio, quando não se tem nem o básico como a infraestrutura das escolas. Vão aumentar carga horária e colocar os alunos para passar mais tempo dentro de sala de aula, sem investir nas escolas. Esse cenário aumentará a evasão escolar. Imagine, uma situação nova em que os estudantes não estão preparados, poderão escolher com a autonomia uma das áreas, mas eles também precisarão cumprir a base comum das grades das disciplinas que inclui todas as demais. Ou seja, aumentará a carga horária desse estudante. Então, deve-se garantir que as escolas estejam equipadas e preparadas para esse novo cenário", disse.
ClickPB
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