Milhares de pessoas ficaram feridas em ações das forças de segurança; equipe das Nações Unidas quer evitar aumento de pessoas com fome; subida de preços agrava situação de pobreza e de “extrema pressão na saúde”.
Meio ano após militares terem tomado o poder pela força em Mianmar, continuam as violações dos direitos humanos, “incluindo execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias, tortura, maus-tratos e desaparecimentos forçados”.
Desde os eventos de 1º de fevereiro, a ONU liderou a condenação internacional à junta que depôs o governo eleito da líder civil Aung San Suu Kyi. Ela foi detida na sequência dos atos que interromperam uma década de governação democrática.
Justiça
Em Nova Iorque, a porta-voz da organização, Eri Kaneko, citou relatos da equipe nacional as Nações Unidas, destacando pelo menos 930 civis mortos na violência das forças de segurança. Entre os milhares de feridos estão mulheres e crianças.
A representante disse que a ONU em Mianmar pede a responsabilização dos autores desses atos e que sejam levados à justiça.
Em entrevista separada, o coordenador residente e humanitário em Mianmar, Ramanathan Balakrishnan, contou à ONU News que a grande preocupação é com o impacto cada vez maior da crise política, de direitos humanos e humanitária.
Sobre a situação no terreno, ele destacou o sofrimento de pessoas severamente afetadas no país. Balakrishnan relatou um país dominado por “instabilidade e uma situação socioeconômica e de segurança em deterioração”. Para agravar esse cenário está a terceira onda de Covid-19 que descreveu como violenta.
Deslocados
A resistência às forças de segurança ocorre em várias “áreas de minorias étnicas”, incluindo nos estados de Shan, Chin e Kachin. Mais de 200 mil pessoas foram expulsas de suas casas até o momento devido à situação.
No estado de Rakhine, aumentou o número de necessitados. Pelo Plano de Resposta Humanitária feito antes da crise, havia cerca de 1 milhão de pessoas nessa situação, incluindo deslocados internos precisando de assistência urgente.
Balakrishnan destaca que após a ação dos militares, outros 2 milhões de birmaneses passaram a precisar de apoio humanitário urgente, principalmente em grandes cidades como Yangon e Mandalay.
A piora dos confrontos e da situação socioeconômica está diariamente empurrando “dezenas de milhares de pessoas” para o grupo dos que carecem de atenção humanitária.
Saúde
Balakrishnan condenou o uso contínuo e generalizado de força letal pelos militares contra manifestantes civis. Ele revelou que as Nações Unidas definiram como prioridade garantir que milhões de pessoas não venham a passar fome.
Em meio ao aumento do preço dos produtos básicos, baixou o valor nutricional da cesta básica. Alimentos comuns foram trocados “por artigos mais baratos e mais facilmente disponíveis.”
O sistema de saúde de Mianmar enfrenta “extrema pressão” por causa da crise do coronavírus, bem como ataques a equipes médicas e instalações. Alguns funcionários integram um “movimento de desobediência civil”, que interrompeu serviços básicos em todo o país.