quem tenho um ótimo contato desde a Rio +20) da Globo e conversei sobre a campanha e novas formas de aprofundarmos a divulgação. Falamos por alto em uma série no jornal nacional comparando os modelos de combate a corrupção de outros países e mostrando como as 10 medidas aproximaria o Brasil dos sistemas mais eficientes do mundo, mas há abertura para outras ideias. O diretor executivo de jornalismo da Globo está em contato conosco para conversar sobre o assunto. Vou fazer uma conversa inicial e colocá-lo em contato com você tudo bem?”, escreveu o procurador em agosto de 2015, no grupo Parceiros/MPF–10 Medidas.
“Shou heim”, vibrou Dallagnol.
Horas mais tarde, Azeredo usou o Telegram para disparar mensagens privadas alertando o colega:
25 de agosto de 2015 – Chat pessoal
Daniel Azeredo – 17:26:30 – Oi Deltan! Aqui é Daniel do Pará! Vc viu minha mensagem no grupo sobre o contato com a Globo? Precisaria do seu ok para avançarmos …
Deltan Dallagnol – 22:37:40 – Respondi lá, shou!! Sensacional!!!! Bora!! Já tnha pedido pro NOME SUPRIMIDO e ele disse que apresentou um projeto ao JN
Dallagnol – 22:37:44 – Se vier ordem de cima, ele manda ver
Dallagnol – 22:37:56 – Ele está em férias agora mas já falei com ele depois da sua msg e ele é empolgado
Azeredo – 23:02:20 – Maravilha!! O diretor fez contato hoje e pediu para trabalharmos com tempo essa série até para não parecer que a campanha é da globo … Mas disse que já podemos fazer um levantamento de informações para passar a eles … Vou mandar no Grupo da SCI tudo bem!?
Dallagnol – 23:13:00 – Claro, shou Daniel!!! Minha sugestão pro NOME SUPRIMIDO foi fazer no esquema “problema – soluçaõ”
Azeredo também compartilhou a informação no grupo SCI/PGR e recebeu um elogio do colega Rodrigo Leite Prado, do MPF de Minas Gerais: “Daniel, já disse e repito: vc é um jênil! Delirando um pouco, se a Globo comprar sua ideia, poderíamos oferecer algo que de que eles gostam muito: casos, divulgados pelas emissoras locais, em que a adoção das Medidas teria evitado a impunidade. Daria boas suítes com custo pífio para o MGTV, o PRTV etc, sobretudo como opção nos dias em que as notícias não estão sobrando…”.
Até ali, Dallagnol e equipe privilegiavam a Globo sempre que possível. Em 3 de julho de 2015, por exemplo, enquanto o grupo comemorava mais um avanço nas investigações, o procurador pediu para os colegas segurarem a informação. “Não passem pra frente, vamos dar pro JN de amanhã em princípio…”, disse no grupo FT–MPF 2, se referindo ao principal programa jornalístico da emissora, o Jornal Nacional. Dallagnol queria repassar à Globo a descoberta, até ali restrita à força-tarefa, de que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa recebeu depósitos em contas na Suíça em datas próximas a telefonemas trocados entre Bernardo Freiburghaus, apontado como operador da Odebrecht, e Rogério Araújo, um executivo da empreiteira. O assunto permaneceu oculto no dia 3 de julho, mas voltou à tona entre os procuradores três dias depois:
6 de julho de 2015 – Chat FT MPF Curitiba 2
Deltan Dallagnol – 11:17:28 – Caros não juntem as info da Ode antes de conversarmos
Dallagnol – 11:17:45 – Moro vai esperar para info em HCs
Dallagnol – 11:17:53 – E estou falando com JN
Athayde Costa – 11:20:36 – Cf passou para o Estadao
Costa – 11:21:39 – Brincadeirinha…..
Costa – 11:22:36 – to tentando com a tim os extratos de 2009 tb
Dallagnol – 11:29:52 – Limite pra passar pro JN é17h
Mesmo antes de terminar essa conversa, Dallagnol já falava com o jornalista da Globo para tratar do repasse da informação exclusiva:
6 de julho de 2015 – Chat pessoal
Deltan Dallagnol – 11:18:20 – Oi NOME SUPRIMIDO , devo passar pra Vc ou pra NOME SUPRIMIDO aquele material?
Dallagnol – 11:18:28 – Ele deu uma melhorada até
Dallagnol – 11:18:48 – Pergunto pq ele me perguntou a respeito…
NOME SUPRIMIDO – 11:19:40 – Oi dr deltan. Aquele o sr deve passar pra mim
NOME SUPRIMIDO – 11:19:48 – Imagino que ele tenha ficado sabendo depois né
NOME SUPRIMIDO – 11:20:00 – Obrigada por me contar
NOME SUPRIMIDO – 11:20:40 – Ele te perguntou do material hoje ou na sexta?
NOME SUPRIMIDO – 11:20:48 – Pq conversamos na quinta
Dallagnol – 11:21:23 – Sexta depois de eu te ligar, mandou uma msg
NOME SUPRIMIDO – 11:21:47 – Então é pra mim mesmo, eu pedi primeiro , ele deve ter me ouvido conversar com a editora rs
Dallagnol – 11:21:59 – como nao falamos pra mais ninguém, imaginei que Vc falou…
NOME SUPRIMIDO – 11:22:08 – Pois é! Eu não falei!
NOME SUPRIMIDO – 11:22:32 – Mas tudo bem, fica entre nós
NOME SUPRIMIDO – 11:22:40 – Posso passar ai ou quer definir um horário
Dallagnol – 11:23:08 – Vamos nos falando. Mas te passo hoje com certeza. Qual o limite de horário?
NOME SUPRIMIDO – 11:23:28 – Umas 17h no máximo. Senão aperta o fechamento da matéria e pode não ir ao ar por conta disso
Dallagnol – 11:23:32 – Qdo for lá, queria entender melhor esse negócio do NOME SUPRIMIDO…
Dallagnol – 11:23:40 – Ok
NOME SUPRIMIDO – 11:23:44 – A gente conversa lá
Dallagnol – 11:30:15 – Pode passar 17h lá. Se ficar pronto antes, aviso
NOME SUPRIMIDO – 11:30:35 – Combinado
A informação de Dallagnol realmente foi aproveitada pela Globo, que veiculou uma reportagem de quase dois minutos no Jornal Nacional daquela noite, 6 de julho. A matéria mostra trechos de um pedido do MPF para manter as prisões de Marcelo Odebrecht e dois executivos da empreiteira. O argumento eram as novas descobertas sobre as movimentações da empreiteira no exterior.
Esse documento já estava pronto desde o dia 2 de julho, mas ainda não tinha sido juntado aos autos da Justiça Federal do Paraná — ou seja, não estava público. A força-tarefa só anexou esse documento no processo às 20h19 do dia 6: onze minutos antes do início do Jornal Nacional daquela noite. Uma espécie de vazamento legalizado.
No dia 21, um repórter da emissora perguntou pelo Telegram se o coordenador da Lava Jato faria alguma denúncia na sexta-feira seguinte. Dallagnol abasteceu o jornalista. “Haverádenúncias sim, e não comente com ninguém mas te garanto que Vc não vai se arrepender. Venha. Mas não comente com ninguém. A ASSCOM vai informar jornalistas amanhã só, creio”, adiantou. “Vc não sabe disso”, acrescentou Dallagnol.
Três meses depois de alimentar jornalistas da emissora, o contato de Dallagnol com a cúpula da Globo finalmente avançaria
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