Adalberto Eberhard sugeriu que governo peça veículos anfíbios às embaixadas da Rússia e do Canadá
A comissão externa que acompanha as estratégias do governo para enfrentar as queimadas no Brasil deverá fazer indicações ao Poder Executivo para apagar o fogo em áreas de difícil acesso no Pantanal. Uma das ideias é que o governo solicite às embaixadas da Rússia e do Canadá veículos e aviões anfíbios para combater incêndios que só neste ano já destruíram mais de 3 milhões de hectares do bioma (Veja infográfico abaixo).
A sugestão foi feita pelo ambientalista Adalberto Eberhard, em videoconferência promovida pela comissão nesta quarta-feira (7).
A coordenadora do colegiado, deputada Professora Rosa Neide (PT-MT), cogitou também a criação de um fundo de proteção dos biomas brasileiros. “Um fundo nacional de proteção dos biomas, ao qual todos os estados pudessem aportar um valor, um percentual aprovado pelo Parlamento, para atuar emergencialmente. Adicionalmente, a União aportaria 50%”, sugeriu a parlamentar.
Rosa Neide quer propor a criação de um fundo nacional de proteção dos biomas com aportes dos estados e da União
Da reunião participaram representantes de setores como o de turismo e de pecuária de Mato Grosso, para discutir as dificuldades e as perspectivas para a região.
Representante do Coletivo de Mulheres Pantaneiras, Alvine Freitas defendeu que se ouçam mais os homens e as mulheres locais na elaboração de ações voltadas ao desenvolvimento da região. A população tradicional, disse, está sendo expulsa pela dificuldade de produção no local.
“A produção pantaneira sempre foi sustentável. Somos defensores do bioma. É um ano quente e há perspectiva de esta seca continuar por mais dois ou três anos”, alertou Alvine Freitas. “Quando vier a chuva e apagar esse fogo, encher os tanques, recuperar a pastagem e a flora, que não caiamos novamente no esquecimento.”
Pecuária
A pecuária extensiva, da forma como vem sendo conduzida há 300 anos, foi defendida na videoconferência. Ela seria integrada à paisagem e traria benefícios para os animais da região, que beberiam a mesma água dos tanques disponibilizados para os bois.
O representante do Sindicato Rural de Poconé (MT) na audiência, Vicente Falcão Filho, exigiu respeito aos produtores. “Nós, produtores do Pantanal, exigimos respeito e que o Pantanal seja reconhecido como espaço geográfico de produção pecuária extensiva, usando a planície, usando o meio ambiente, sem agredi-lo. Se existe Pantanal hoje, existe o homem pantaneiro, que está há mais de 300 anos fazendo isso.”
Uma das linhas de investigação para determinar a origem das queimadas na região avalia se o fogo pode ter sido provocado para criar novos pastos.
Turismo
Representantes do setor de turismo também defenderam a preservação do bioma. O diretor-executivo do Pantanal Mato Grosso Hotel, Leopoldo Nigro declarou que a natureza preservada é a “galinha dos ovos de ouro” do setor. Ele pediu investimentos em infraestrutura, principalmente na rodovia Transpantaneira.
“[A Transpantaneira] precisa de uma modernização, de estacionamento. Precisa de banheiros, de mirantes, para as pessoas não pararem ao longo da rodovia. Tudo isso cria estrutura, fomenta o turismo, desenvolve a região tanto para os pecuaristas como para o pessoal de turismo, que muitas vezes são um só, como é o caso das pousadas que migraram da pecuária para o turismo”, defendeu Nigro.
Uma das sugestões de Nigro, a de colocar pontos de água e alimentos à beira das estradas para animais silvestres, no entanto, foi criticada por outro representante do setor de turismo. Para o gerente do Pouso Alegre Lodge, Luiz Vicente Campos Filho, água na beira das rodovias pode ser perigoso para os animais, que podem ser atropelados.
Em vez de um turismo consumista da natureza, Campos Filho defendeu um turismo de aprendizagem. “Eu enxergo outra possibilidade, que é uma vivência na natureza. Eu não vejo essa discussão sendo colocada, que é a pessoa ir a um ponto da natureza em busca da própria natureza, como forma de autoconhecimento, como aprendizado de vida, participando realmente de algo amplo como a natureza é, cheia de exemplos, muito mais do que a vida que a gente estabelece como pronta”, afirmou.
Futuro
A expectativa dos participantes do debate é que governos e população estejam melhor preparados para o próximo ano. Isso pode ser feito a partir, por exemplo, da observação do ciclo de chuvas. Se chover pouco, a provável consequência é que a seca seja mais forte.
Conforme lembrou o ambientalista Adalberto Eberhard, o Pantanal na verdade é um semiárido. Ou seja, é seco, mas sua riqueza vem do ciclo de inundação da planície. Há ciclos, explicou, de maiores cheias e maiores secas.
Para ele, é preciso mudar a abordagem de ocupação do bioma e estar atento, por exemplo, aos esgotos e ao envenenamento de cabeceiras de rios. A partir de agora, disse Eberhard, é preciso ver tudo o que já foi proposto em relação ao bioma e fazer uma triagem à luz da realidade atual.
Também participaram da audiência os deputados Paulo Teixeira (PT-SP), Vander Loubet (PT-MS), Célio Moura (PT-TO) e Merlong Solano (PT-PI).
Fonte: Agência Câmara de Notícias
Reportagem – Noéli Nobre
Edição – Geórgia Moraes
Fonte: Agência Câmara de Notícias
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