Juliana Gelatti e Marcelo Martins
Empreender é assumir riscos. Certo? Em parte. Os riscos, àqueles que se aventuram em ter seu negócio próprio, devem ser calculados. Ou seja, avaliar o mercado, escolher um nicho de atuação que lhe dê lucro, entre tantas outras variáveis.
Ao percorrer as ruas centrais e os shoppings da cidade, a reportagem constatou 86 imóveis comerciais vagos em Santa Maria. As causas para a desocupação são variadas: queda nas vendas que, aliada aos custos fixos do negócio, como aluguel do ponto, inviabiliza em alguns casos a atividade, e a burocracia, com a demora para a liberação de alvarás.
Quem passa pelo Centro da cidade já deve ter percebido que há muitas lojas que fecharam e tantas outras com indícios que vão encerrar suas atividades, com saldos de vendas de produtos. Além de dezenas de imóveis comerciais com placas de locação e tantos outros desocupados. Em uma parcela dos casos, a crise econômica, com juros mais altos, perda do poder de compra da população e a consequente queda das vendas obrigou lojistas a reverem seus planos.
Por quatro anos, de 2009 a 2012, o empresário Alessandro Correia, 36 anos, e um sócio chegaram a ter quatro lojas de bolsas e bijuterias, onde empregavam 16 pessoas. Em 2013, as dificuldades apareceram, a sociedade se desfez e veio a necessidade de manter aberto um dos pontos na Rua do Acampamento. Para isso, Correia resolveu mudar de ramo:
– Eu observei que, com a crescente crise, as pessoas vão abdicando de muitas coisas. Infelizmente, é preciso fazer escolhas. E pensei: a comida ainda não deixou de ser necessidade – diz o empresário que agora trabalha com dois funcionários.
Outros fatores
Para a CDL, a burocracia tem tido um peso maior do que a própria crise no esvaziamento de pontos comerciais – leia mais ao lado. O problema afeta também os shoppings, já que as lojas situadas nesses espaços só podem encaminhar a documentação quando o shopping já está em dia, o que também tem demorado.
Fatores específicos completam a lista de explicações. No Monet Plaza Shopping, das 14 lojas vazias, apenas cinco estão realmente disponíveis. Das demais, uma parte dos espaços vazios não podem ser locados porque serão atingidos pelas obras de expansão.
Burocracia é um dos empecilhos
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Santa Maria, Ewerton Falk Brasil, a crise é um fator secundário na explicação. Estaria pesando o fato de que a concessão de alvarás, como o alvará dos bombeiros, estaria mais demorada nos últimos anos.
Isso faz com que uma parcela dos empresários perca o prazo para legalização que possibilita o enquadramento tributário no Simples e, tendo de pagar 25% a mais de impostos, os negócios fiquem inviáveis.
– Tem gente tentando trocar de endereço por isso. E a sede original da empresa, se foi difícil legalizar com uma, será mais difícil com a próxima, e por isso ficam vazias por meses, até sem a placa de aluguel.
A vice-síndica do Santa Maria Shopping, Oneide Serro, confirma a avaliação. Segundo ela, o shopping tem tido dificuldades em renovar seus alvarás, por conta de uma demora nas vistorias dos bombeiros, o que impacta nas autorizações para cada uma das lojas:
– Toda semana vamos lá ver o que falta, fazemos as adaptações, e mesmo assim não conseguimos agilizar.
De acordo com o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Jaques Jaeger, está em implantação em Santa Maria a Redesimples, que promete agilizar a tramitação dos papéis pela prefeitura, em conjunto com os bombeiros. A intenção é que até 31 de março as engrenagens do município estejam mais azeitadas. Mas, para isso, ainda é necessário adequar a legislação.
Pelo mesmo requisito passam eventuais mudanças na concessão de alvarás dos bombeiros. Desde janeiro está em teste em Santa Maria um sistema que emite mais rapidamente os alvarás para negócios classificados como baixo risco. Porém, para que este se torne o método de prevenção a incêndios, tudo deve passar pelo crivo dos deputados e do governo gaúcho.
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