quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

BIDEN VENCEU, AGORA COMEÇA A PARTE DIFÍCIL Mobilizações progressistas em Detroit, Minneapolis e Filadélfia impulsionaram a votação do democrata.

 

A VITÓRIA de Joe Biden, que tomou posse nesta quarta-feira, passou por conquistar estados perdidos por Hillary Clinton em 2016, como Pensilvânia, Wisconsin e Michigan, decisivos para ultrapassar a barreira dos 270 votos necessários no Colégio Eleitoral. Mas, enquanto os votos de cidades fortemente progressistas fizeram esses estados mudarem de lado, os democratas também perderam espaço na Câmara, embora tenham mantido a maioria.


Ainda em novembro, dois dias após as eleições, políticos de centro atacavam a ala mais à esquerda do Partido Democrata pela perda de cadeiras na Câmara e por uma possível derrota no Senado, que acabaria não se confirmando após o segundo turno na Geórgia, celebrado no início de janeiro. Na ocasião, uma justaposição surreal veio à tona: será que a mobilização progressista em prol de questões mais à esquerda resultou em votos para Biden onde ele precisava? Ou essas iniciativas, em um contexto mais amplo, teriam prejudicado o partido? Ou talvez as duas coisas?

A crítica mais feroz veio da deputada Abigail Spanberger, ex-funcionária da CIA que obteve uma vitória surpreendente na zona rural e suburbana de Virgínia em 2018. Sua conquista foi simbólica, pois ela derrotou Dave Brat, político do Tea Party que vencera o líder da maioria, Eric Cantor, em 2014, pressagiando o começo da ascensão de Trump no ano seguinte. Em 2018, Brat acusou Spanberger de apoiar o programa Medicare for All, querer abolir o órgão de imigração dos EUA e ser aliada da democrata Nancy Pelosi – embora Spanberger buscasse teatralmente se afastar das duas questões, da futura presidenta da Câmara e do ex-presidente Barack Obama. Sua defesa estimulante – “Abigail Spanberger é meu nome!” – em debate com Brat resultou em um vídeo viral:



Spanberger obteve uma vitória estreita e passou 2019 e 2020 se distanciando ainda mais da ala progressista do partido. Ela enfrentou uma eleição disputada, mas ficou novamente em vantagem e conseguiu se reeleger.


No entanto, isso não diminuiu sua raiva em relação à esquerda. Na teleconferência da quinta-feira seguinte às eleições de 3 de novembro, o alvo principal das críticas de Spanberger não foi a abolição do órgão de imigração, mas o “Defund the Police”, lema em prol da retirada do financiamento das polícias que ganhou destaque nos protestos pela morte de George Floyd, assassinado por um policial de Minneapolis.


O deputado Conor Lamb – cuja vitória na eleição especial de 2018 sinalizou a iminente onda democrata – apoiou a colega de partido. “Spanberger falou sobre algo que sentimos hoje: pagamos o preço por esses comentários não profissionais e irrealistas a respeito de uma série de questões, seja sobre a polícia ou o gás de xisto”, disse Lamb. “Essas questões são muito sérias para que as pessoas que representamos tolerem comentários tão casuais.”


Mas a crítica de Lamb aos colegas democratas vai ao cerne da falha desse argumento. O deputado não foi forçado a defender a retirada de recursos das polícias pela deputada Alexandria Ocasio-Cortez nem por qualquer outro membro do Squad democrata. Ele próprio foi a um protesto do movimento Black Lives Matter e tirou uma foto, sem máscara, com uma mulher (branca), segurando um cartaz com o slogan “Defund the Police” – e foi criticado pelo seu oponente republicano. A maioria dos políticos de centro vê a política de cima para baixo – estratégias devem ser decididas no topo e implementadas por quem está mais abaixo. Mas o “Defund the Police” – e o que quer que se pense a respeito – surgiu nos protestos que eclodiram em Minneapolis, e não no comitê central do Squad democrata.


Na verdade, os democratas se beneficiaram de um aumento no registro de eleitores em meio aos protestos, como observou Tom Bonier, líder da TargetSmart, a principal empresa de dados democrata.



O líder do partido, James Clyburn – democrata da Carolina do Sul cujo apoio a Biden começaria a levar à indicação do ex-vice-presidente como candidato nas eleições de 2020 –, alertou: se os democratas manifestassem apoio ao Medicare for All e outras pautas progressistas, o partido perderia a eleição especial da Geórgia para o Senado, que determinou o controle da casa e a possibilidade de implementação de uma agenda legislativa pelo governo eleito.


Mesmo assim, os progressistas lutaram por uma série de cadeiras com tendência de vitória republicana. A deputada democrata Katie Porter reelegeu-se com 8% de vantagem no 45º distrito da Califórnia – que cobre o condado de Orange e a cidade de Irvine, que ela virou a favor dos democratas em 2018. Mais ao sul, o deputado Mike Levin, que tirou dos republicanos o 49º Distrito há dois anos, foi reeleito, derrotando seu oponente republicano por 12 pontos percentuais. Ambos apoiam o projeto de lei Medicare for All na Câmara, assim como Jared Golden no Maine, Ann Kirkpatrick no Arizona, Josh Harder na Califórnia e Susan Wild e Matt Cartwright na Pensilvânia – todos reeleitos em distritos que costumam oscilar entre vitórias democratas e republicanas. O deputado democrata Tom Malinowski também foi vitorioso em seu distrito, ao norte de Nova Jersey, com uma diferença de 8 pontos, mantendo o poder no distrito que ele tirou dos republicanos em 2018. O Cook Political Report classificou os distritos de Porter e o de Malinowski como tendo vantagem republicana de 3 pontos percentuais e o de Levin como tendo 1 ponto de vantagem favorável aos republicanos.

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