O Grupo de Estudos e Pesquisa em Linguagem e Comunicação Alternativa da UFS (GEPELC) está avaliando os efeitos do isolamento social, em decorrência da pandemia da covid-19, no comportamento e na comunicação de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O levantamento é feito através de questionário digital. Pais e responsáveis de crianças e adolescentes autistas com idade entre 2 e 18 anos podem responder as perguntas até o dia 3 de agosto. A pessoa leva em média 15 minutos para participar da pesquisa.
"Observamos que os pais estavam com muitas inquietudes, muitas dúvidas que, na verdade,nós tínhamos que apoiá-los neste momento. Além dos nossos pacientes, nós começamos a receber pedidos de outras famílias para saber o que fazer com os meninos por conta das alterações de comportamento e linguagem. Daí, surgiu a ideia da gente averiguar que problemas são esses que estão aparecendo neste período para que possamos fazer um plano de intervenção posterior," conta a coordenadora do GEPELC e professora de Fonoaudiologia da UFS, Rosana Carla do Nascimento Givigi.
A pesquisa, acrescenta a professora, pretende ajudar o grupo no processo de orientação às famílias sobre as questões relacionadas ao confinamento. "Pensamos tanto em produzir um material escrito sobre alternativas e possibilidades de trabalho em casa, como também nós pretendemos, a partir dos resultados, pensar possíveis soluções e fazer uma intervenção mais direta através do teleatendimento e a teleorientação, que possam garantir às famílias uma parceria num momento tão difícil."
Um outro objetivo do estudo é que as pessoas com TEA estejam na pauta das políticas públicas, "já que é um grupo vulnerável e que, nesse momento, além de estar sem a escola, fica sem o apoio psicológico, fonoaudiológico, terapia ocupacional e dos tratamentos que são submetidos e que, geralmente, recebem," destaca Nascimento.
Em funcionamento desde 2008, o GEPELC, ligado ao Departamento de Fonoaudiologia da UFS, atende crianças e adolescentes com dificuldades de comunicação e aprendizagem. O público- alvo são indivíduos autistas e com deficiência motora severa. Para mais informações, os interessados nos atendimentos podem acessar o perfil @gepelc_ufs no instagram ou enviar um e-mail para: rosanagivigi@uol.com.br.
TEA e Covid-19
A SBP publicou, no início do período de pandemia, uma nota de alerta sobre a covid-19 e o TEA para médicos pediatras. A nota esclarece que crianças autistas não fazem parte do grupo de risco, exceto as que têm comorbidades, como diabetes. "Entretanto, elas possuem risco aumentado de contágio, em função da hiperreatividade sensorial diante da exploração pelo olfato, como cheirar, colocar na boca e tocar objetos."
O documento da Sociedade Brasileira de Pediatria ainda mostra que o sono pode sofrer impactos diante das medidas de isolamento social, uma vez que "estudos epidemiológicos indicam que crianças com TEA têm alterações significativas na qualidade e organização do sono quando comparadas a crianças normotípicas pareadas por idade/sexo. Distúrbios do sono acometem até 80% desta população."
Para evitar uma possível alteração no sono, a SBP recomenda algumas condutas, como manter o horário consistente de dormir e acordar, diferenciar atividades do dia e da noite e evitar telas e eletrônicos no mínimo 30 minutos antes do horário do sono.
Outras sugestões apresentadas às famílias são: explicar regras de higiene através de desenhos e ilustrações de acordo com o nível de compreensão da criança e estimular atividades de interesse dos pequenos, como livros, filmes e brinquedos especiais.
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) lançou, no dia 27 de março, uma cartilha com orientações às famílias de crianças e adolescentes com autismo em tempos de pandemia. Dentre as indicações, estão: identificar uma pessoa para compartilhar os cuidados diários e evitar autocobranças em relação às atividades do cotidiano.
TEA: conceito, sintomas e tratamento
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição caracterizada por "dificuldades de comunicação e interação social e pela presença de comportamentos e/ou interesses repetitivos ou restritos." Os sintomas aparecem na infância e apresentam gravidades variáveis por pessoa. Neste caso, o diagnóstico ocorre, em média, entre 4 e 5 anos de idade.
A Associação Autismo e Realidade afirma que uma criança com espectro autista, geralmente, apresenta: dificuldades para expressar emoções e fazer amigos, apego excessivo a rotinas e ações repetitivas e sensibilidade (hiper ou hipo) sensorial.
Ainda, de acordo com a associação, uma em cada 58 crianças no mundo nasce dentro do espectro autista. Como não há remédio específico para o autismo, é recomendado o tratamento com uma equipe médica multidisciplinar, formada por pediatra, psicólogo e fonoaudiólogo, entre outros, para desenvolvimento de habilidades das crianças.
O autismo atinge uma em cada 160 crianças no mundo, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). As evidências científicas, ainda conforme a OPAS, sugerem que fatores genéticos e ambientais tornam a criança mais propensa ao TEA.
Fonte: UFS
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