terça-feira, 8 de outubro de 2019

WhatsApp reconhece que foi violado na campanha presidencial de 2018

Pela primeira vez, o WhatsApp admitiu que a eleição presidencial de 2018 teve uso de envios maciços de mensagens, com sistemas automatizados contratados de empresas. A prática, ilegal, beneficiou campanhas como a de Jair Bolsonaro (PSL). “Houve a atuação de empresas fornecedoras de envios maciços de mensagens, que violaram nossos termos de uso para atingir grande número de pessoas”, disse Ben Supple, gerente de Políticas Públicas e Eleições Globais do WhatsApp, em palestra no Festival Gabo.

   
Em uma série de reportagens desde outubro do ano passado, a Folha de S.Paulo revelou a contratação, durante a campanha, de empresas de marketing que faziam envios maciços de mensagens políticas, usando de forma fraudulenta CPFs de idosos e até contratando agências estrangeiras. Uma das reportagens noticiou que empresários apoiadores de Bolsonaro bancaram o disparo de mensagens em massa contra Fernando Haddad (PT), que foi derrotado.

O TSE veda o uso de ferramentas de automatização, como os softwares de disparo em massa. Além disso, conforme mostrou a Folha, empresários contrataram disparos a favor e contra candidatos, sem declarar esses gastos à Justiça Eleitoral, o que configura o crime de caixa dois.

No mesmo evento, o executivo do WhatsApp condenou os grupos públicos da plataforma acessados por meio de links que distribuem conteúdo político, na maior parte das vezes relacionados ao governo Bolsonaro. “Vemos esses grupos como tabloides sensacionalistas, onde as pessoas querem espalhar uma mensagem para uma plateia e normalmente divulgam conteúdo mais polêmico e problemático”, disse Ben Supple. “Nossa visão é: não entre nesses grupos grandes, com gente que você não conhece. Saia desses grupos e os denuncie.”

Segundo o executivo, o WhatsApp desencoraja “o uso dos grupos como listas de transmissão” de conteúdos, como ocorre com muitos grupos de apoiadores de políticos. “O WhatsApp foi criado para abrigar conversas orgânicas, entre famílias e amigos." Indagado se o uso do WhatsApp por campanhas políticas violava as regras, ele afirmou: “Não viola desde que se respeitem todos os termos de uso [que vedam automação e envio massivo]. Todos estão sujeitos aos mesmos critérios, não importa se quem usa é um candidato à Presidência ou um camponês do interior da Índia.”

Supple reconheceu, ainda, a influência do aplicativo em processos eleitorais. “Sabemos que eleições podem ser vencidas ou perdidas no WhatsApp”, disse. E afirmou que o WhatsApp despachou equipes para acompanhar as eleições de Índia, Indonésia e Parlamento Europeu no primeiro semestre.

Segundo ele, a plataforma já esperava que as eleições no Brasil fossem palco de campanhas de desinformação. “Sempre soubemos que a eleição brasileira seria um desafio. Era uma eleição muito polarizada e as condições eram ideais para a disseminação de desinformação”, disse. “No Brasil, muita gente usa o WhatsApp como fonte primária de informação e não tem meios para verificar a veracidade do conteúdo.” No entanto, apenas uma minoria comete irregularidades, afirma.

O executivo disse que a empresa vem adotando uma série de medidas para bloquear contas que violam as normas ao fazer envio automatizado ou maciço. E relatou que desde janeiro – quando o número de reencaminhamentos de uma mensagem foi limitado a cinco –, o número total de reencaminhamentos caiu 25%. Supple afirmou que o WhatsApp tem banido 2 milhões de contas por mês.


Com informações do Folha.com

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