Bolsonaro tosse em manifestação - Foto: Reprodução
Um dos mais respeitados jornais alemães, Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) repercutiu, nesta segunda-feira (25), o conteúdo da reunião ministerial do dia 22 de abril, afirmando que a íntegra da gravação que deixou o Brasil por dias na expectativa “fornece informações reveladoras sobre a vida cotidiana do governo brasileiro e coloca o presidente Bolsonaro sob pressão”.
Com o título “Kurs auf den Eisberg”, expressão que significa “Rumo a um desastre”, o jornal alemão afirma que “a gravação da reunião desmascara o estilo de liderança de Bolsonaro e seus ministros”. Alerta, no entanto, que “a possibilidade de servir ao seu objetivo real, como evidência em uma investigação contra o presidente brasileiro”, permanece em aberto, mas que a “colisão com o iceberg” dificilmente poderá ser evitada, pelo menos para o país e sua economia.
Narrando a situação caótica do Brasil diante da pandemia do coronavírus, descreve que o sucessor de Luiz Henrique Mandettadesistiu do cargo apenas quatro semanas depois de assumir porque não queria cumprir o desejo de Bolsonaro de liberar a cloroquina para o tratamento de pacientes infectados pela covid-19 sem haver base científica. “Bolsonaro está apostando na crescente impaciência e nas dificuldades econômicas da população”.
Vídeo
A matéria narra, também, os trechos das polêmicas reveladas. “Nele [vídeo], o presidente Jair Bolsonaro pede o armamento da população e insulta os governadores com um ‘bando de merda’. Seu ministro da Educação quer ver os juízes da Suprema Corte e outros ‘ladrões’ atrás das grades. O ministro do meio ambiente está incentivando a desregulamentação na proteção ambiental, enquanto a crise atrai a atenção de todos. E o Ministro da Economia pede um ‘Plano Marshall’ financiado pela China para todos os países afetados pela pandemia. Estes são apenas alguns exemplos da reunião de gabinete de 22 de abril, cujo registro foi divulgado pela Suprema Corte na sexta-feira. Muitos brasileiros estão atordoados. Enquanto isso, congressistas entraram com ações contra vários ministros”, diz o primeiro trecho.
Contextualizando com a acusação feita pelo “ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que renunciou dois dias após a reunião em questão porque não aprovou uma troca de comando da Polícia Federal”, o diário diz afirma que Bolsonaro queria manter um amigo da família à frente da corporação “para proteger seus filhos e pessoas do seu ambiente pessoal, contra quem a Polícia do Rio de Janeiro abriu investigação”.
Provas
O texto do FAZ diz que o vídeo da reunião do gabinete não fornece nenhuma evidência tangível para essa acusação, mas há outras evidências”. “Bolsonaro não queria assistir toda a sua família ou amigos serem ‘fodidos’ porque ele não podia mudar nomes. ‘Se eu não puder fazer isso, mudarei de chefe. Se não posso mudar de chefe, mudo de ministro. Ponto final’”, descreve.
O alemão segue, ainda, apontando que “Bolsonaro alega que esta declaração se refere à sua proteção pessoal. No entanto, diz que existem consideráveis dúvidas sobre essa representação, uma vez que o chefe de sua proteção pessoal havia sido substituído apenas algumas semanas antes. Além disso, apenas a família de Bolsonaro desfruta de proteção pessoal, mas não seus amigos”.
Sistema paralelo
Em outro trecho, o FAZ sublinha que “várias vezes durante a reunião, Bolsonaro reclamou que não recebeu informações dos serviços de segurança, incluindo a Polícia Federal. Ele também falou de um ‘sistema de informações privadas’ que funciona, enquanto o do governo apenas desinformava.
Diz, ainda, que “embora o vídeo da reunião do gabinete, por si só, provavelmente não seja suficiente para apresentar acusações contra Bolsonaro, ele poderia ao menos se tornar um bloco de construção das evidências contra ele”, mencionando os 36 pedidos de afastamento já apresentados no Congresso.
‘Velha política’
O Frankfurter também afirma que, ainda que embora “Bolsonaro tenha expressado repetidamente desprezo por essa ‘velha política’, seu governo lidou com várias delas nos últimos dias. Após o lançamento do vídeo, o preço do apoio político é ainda mais alto”.
Fazendo menção ao momento vivido pelo país em 2016, o jornal diz a situação é apenas parcialmente comparável à daquele ano. “Quando Dilma foi deposta, o Congresso se sentiu seguro, como grandes parcelas da população se manifestando contra Dilma. No entanto, essa mobilização popular para o depoimento de Bolsonaro atualmente não é discernível, embora, de acordo com pesquisas, quase metade da população aprove esse passo”.
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