sábado, 11 de abril de 2020

‘ESTOU SENDO EMPURRADA PARA A MORTE’: 62% DOS SERVIDORES DO GRUPO DE RISCO PARA CORONAVÍRUS TRABALHAM SEM PROTEÇÃO EM SP


A ENFERMEIRA e servidora municipal Juliana* atendeu o telefone ofegante. Fumante que sobreviveu a dois AVCs, ela havia usado o período da manhã para buscar doações de máscaras para dividir com a equipe de trabalho – os profissionais de saúde que lidam com pacientes entubados por covid-19 em um hospital público da cidade de São Paulo.

Ainda esta semana, ela me disse, deve chegar outra doação, desta vez de aventais cirúrgicos para colegas que ainda não foram afastados – muitos já estão fora de combate por terem sido contaminados pelo coronavírus ou terem crises de ansiedade. A preocupação é ainda maior porque, desde o início da pandemia, nem ela nem os colegas foram testados.


O relato de Juliana tem três denúncias graves. Por ser parte do grupo de risco, ela deveria ter prioridade nos testes, como preconiza o Ministério da Saúde. Mas os testes, escassos, são destinados a pacientes graves. Também deveria ter sido realocada para outro setor ou afastada, mas isso não aconteceu. “Tentaram por dois dias, mas não tinha quem me substituísse”. Ela voltou – e sem equipamento de proteção individual.

Juliana é uma dos mais de 627 servidores municipais da maior capital do país que responderam, em condição de anonimato, uma pesquisa que o Intercept teve acesso com exclusividade. Em pleno epicentro da doença, cerca de 62% dos profissionais afirmaram não ter máscaras de uso hospitalar (N95); 52% não têm máscara cirúrgica; 70%, álcool 70; e 30%, avental. Disponibilizar equipamentos de segurança não é opcional, mas um direito do trabalhador e uma obrigação do empregador. Quase um terço dos profissionais afirmou ter 60 anos ou mais – ou seja, também pertence ao grupo de risco.

O objetivo da pesquisa, realizada pelo Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo, o Sindesp, era mapear as condições de segurança de trabalho e os riscos de contaminação entre os servidores do grupo de risco para a covid-19. “Você tem profissional trabalhando com capa de chuva ou saco de lixo tamanho o desespero. Não está tudo em ordem e a população vai sentir isso na carne, porque também vai ficar mais exposta”, diz Sergio Antiqueira, presidente do Sindsep.

“Eu recebi uma máscara N95 com a indicação de usar por um mês, e não por seis horas, como recomenda o Organização Mundial da Saúde para os que estão cuidado de pacientes com covid-19”, me disse Juliana. Entidades como o Sinsesp vêm contabilizando o número de trabalhadores infectados: segundo outro levantamento do sindicato, o índice de infecção por covid-19 entre os profissionais da saúde é 16 maior que o da população da capital.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Mulher morre e 44 pessoas ficam feridas após ônibus tombar na BR-040, em Minas

 Um acidente envolvendo um ônibus de turismo deixou uma pessoa morta e outras 44 feridas em Minas Gerais na madrugada deste domingo (10). O ...