Na casa dos Antunes Coimbra, em Quintino, zona norte do Rio de Janeiro, quatro dos cinco filhos de Seu José, todos rubro-negros como o pai, se tornaram jogadores de futebol. “Fomos catequizados”, diz Zico, o caçula e mais famoso boleiro da família, que brilhou com a camisa 10 do Flamengo entre as décadas de 70 e 80. O apreço genético pela bola, no entanto, não reservou apenas alegrias ao reduto de descendentes portugueses. A sorte mudou quando um dos irmãos, Nando, cruzou o caminho da ditadura.
Por ter integrado o Plano Nacional de Alfabetização idealizado por Paulo Freire, ele foi visto como subversivo pelo regime militar. Chegou a ser preso e torturado. Com medo de prejudicar a carreira dos irmãos, decidiu pendurar as chuteiras aos 26 anos. A família atribui a não convocação de Edu, craque do América-RJ, para a Copa de 1970, e de Zico, para os Jogos Olímpicos de 1972, a uma suposta interferência dos militares que monitoravam os passos de Nando.
Apesar de sua família abrigar o primeiro ex-jogador anistiado como perseguido da ditadura, Zico, hoje comentarista do Esporte Interativo, hesita em condenar manifestações que clamam por intervenção militar no país, com uma ressalva: “O Brasil precisa de ordem e disciplina, não de ditadura”. Em entrevista ao EL PAÍS, o Galinho de Quintino ainda fala sobre Copa do Mundo, exalta Neymar, compara Adriano Imperador a Mané Garrincha e implora aos dirigentes cariocas para que devolvam ao povo o templo do futebol onde edificou sua idolatria.
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