quarta-feira, 18 de abril de 2018

Serviço doméstico feminino supera o masculino em até 4h30 na Bahia

Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que na Bahia as mulheres se dedicam aos serviços domésticos em até 4h30 semanais a mais que os homens.
Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), no módulo temático Outras Formas de Trabalho, e trás informações comparativas sobre o assunto entre os anos de 2016 e 2017.
Essa diferença de 4h30 se dá pela dedicação semanal total de 52,9 horas das mulheres ao serviço doméstico, que inclui ainda o cuidado com pessoas na própria residência. A dedicação semanal dos homens a esses serviços ficou em 48,4 horas.
A Bahia, ainda de acordo com a pesquisa, apresenta a quarta maior diferença entre os estados, abaixo de Sergipe (5,8 horas), Rio Grande do Norte (5,4h) e Piauí (4,9h), e maior ainda que a média nacional (de 3,1 horas).
E no ano passado houve um aumento – registra o IBGE – dessa distância na Bahia em relação a 2016, quando era de 3,3 horas para mulheres. O aumento de 2017 na Bahia foi o segundo maior do Brasil, onde o maior registro ocorreu no Rio Grande do Norte (de 3,8 para 5,4 horas).
No país, como um todo, a diferença no total de horas dedicadas por mulheres e homens a trabalho fora e dentro de casa teve, em 2017, pequena variação para cima em relação a 2016 (de 2,9 para 3,1 horas).
Tipos de afazeres
Além da desigualdade na frequência de realização de afazeres domésticos e no tempo dedicado a eles, homens e mulheres diferem ainda no tipo de afazer mais realizado por cada um.
Na Bahia, os afazeres mais relatados pelas mulheres são “preparar ou servir alimentos, arrumar a mesa ou lavar louça” e “cuidar da limpeza ou manutenção de roupas e sapatos”.
Já os homens, citaram mais “cuidar da organização do domicílio (pagar contas, contratar serviços, orientar empregados etc.)” e “fazer compras ou pesquisar preços de bens para o domicílio”.
É mais ou menos o que ocorre na casa de Jânia Deise Silva, 27 anos, que mora em Vitória da Conquista, Sudoeste do estado. Atualmente de licença maternidade, ela tem ficado em casa com a filha de 4 meses e o filho de 5 anos. O marido, Lúcio, por conta do trabalho, passa a semana mais em outras cidades que em casa.
“Mas quando ele está aqui, sempre dividimos as tarefas, seja com os filhos ou com os afazeres da casa. Só que quando terminar a licença maternidade é que vou ter de voltar para Jequié, e vou ter de contratar uma pessoa por um período para ficar com os meninos”, contou ela.
A pesquisa do IBGE mostra também que mais homens passaram a realizar afazeres domésticos, entre 2016 e 2017, na Bahia, onde o tempo médio que eles dedicam a essas tarefas subiu de 10,3 para 10h30 horas semanais.
Enquanto isso, as mulheres passaram a dedicar ainda mais tempo à casa e seus moradores: despendiam nesses afazeres 21,4 horas em 2016 e passaram a 22,7 horas no ano passado.
Na casa do eletrotécnico Tiago Ribeiro dos Santos, 33, também morador de Vitória da Conquista, ele e a esposa já pensaram em contratar alguém para ficar com a filha de 3 anos, mas a sogra dele está realizando o serviço, por enquanto.
Sobre a pesquisa do IBGE, Santos disse que concorda em parte. “No geral, concordo, mas eu ajudo muito minha esposa. Temos uma rotina diária, ela trabalha fora e nós dividimos os afazeres do lar. Cuidamos da menina e dividimos as atividades”, contou.
Renda menor
Contratar alguém para fazer os serviços domésticos é algo que, devido à crise econômica nacional, tem sido difícil de ser feito, e por isso as pessoas, sobretudo as mulheres, estão se dedicando mais aos serviços domésticos, avalia Alessandra Scalioni, analista de Trabalho e Rendimento do IBGE.
“Os domicílios estão com renda média menor, e a renda do trabalho das pessoas ocupadas também diminuiu, conforme pesquisas que já divulgamos. Então, as pessoas que tinham babás ou domésticas dispensaram essas pessoas e passaram a dividir melhor as tarefas domésticas”, disse ela, referindo-se a um cenário nacional.
O Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia informou que ainda sentiu uma queda no número de domésticos com carteira assinada no estado, onde há cerca de 500 mil pessoas que atuam neste tipo de serviço.
“A gente teve uma redução na movimentação, mas demissão não verificou, ao menos algo gritante. O que percebemos é uma mudança no sentido de burlar a legislação, uma parte da sociedade sempre buscou isso, para não ter que registrar carteira”, comentou o diretor de comunicação do sindicato, Francisco Xavier Santana.
Procurado para comentar a pesquisa, o Ministério do Trabalho e Emprego não deu retorno.

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