sábado, 7 de abril de 2018

Lula deixa sede de sindicato e se entrega à PF em São Paulo


Depois de mais de 48 horas da expedição do decreto de prisão pelo juiz Sérgio Moro, Lula se entregou à Polícia Federal pouco antes das 19 horas deste sábado, 7. Ele deixou o prédio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC a pé e entrou em um dos carros da PF não identificados que o aguardavam em uma garagem próxima. Em seguida, os veículos saíram em comboio.

O ex-presidente tentava deixar o prédio desde as 17 horas, mas era impedido por militantes contrários à rendição. Eles gritavam "cercar, cercar e não prender", enquanto dirigentes do PT pediam que saíssem dos portões do sindicato. Gleisi Hoffmann, presidente do partido, alertou que a situação jurídica de Lula poderia se agravar se ele não cumprisse o acordo feito entre seus advogados e a PF.

O petista anunciou que havia decidido se entregar no início da tarde, em discurso ao final de uma missa em homenagem à sua falecida esposa, Marisa Letícia. Ainda, convocou os aliados a se tornarem "milhões de Lulas pelo País". “Não adianta eles tentarem me parar. Eu não vou parar porque não sou ser humano, sou uma ideia e estou com vocês", disse.

Pronunciamento - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou por 55 minutos neste sábado (7) em frente à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo Campo, negou os crimes pelos quais foi condenado, disse que vai se entregar e provar sua inocência. Ele saiu do prédio para participar de um ato religioso e falou pela primeira vez desde sua ordem de prisão, expedida na quinta-feira (5). 

O ex-presidente afirmou que está agindo de forma "consciente". "Mas muito consciente. Eu falei para os companheiros: 'Se dependesse da minha vontade, eu não iria. Mas eu vou'. Eu vou porque eles vão dizer a partir de amanhã que o 'Lula está foragido', que o 'Lula está escondido'". 

"Eu não estou escondido. Eu vou lá na barba deles, para eles saberem que eu não tenho medo, para eles saberem que eu não vou correr e para eles saberem que eu vou provar a minha inocência. Eles têm que saber disso."

Para o ex-presidente, haverá continuidade após a prisão. "Minhas ideias estão pairando no ar, não há como prendê-las. Quando eu parar de sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês. Não adianta achar que tudo vai parar quando o Lula infartar, o meu coração baterá pelo coração de vocês. Por milhões de corações. Não adianta acharem que vão fazer com que eu pare, eu não pararei porque não sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia", disse.

O ex-presidente também criticou a Justiça e afirmou que julgaram seu caso pressionados pela opinião pública. "Não pensem que eu sou contra a Lava Jato, não... a Lava jato, se pegar bandido, tem que pegar bandido mesmo que roubou, e prender. Todos nós queremos isso. Todos nós, a vida inteira, dizíamos: 'só prende pobre, não prende rico'. 'Todos nós dizíamos. E eu quero que continue prendendo rico. Eu quero. Agora, qual é o problema? É que você não pode fazer julgamento subordinado à imprensa porque, no fundo, no fundo, você destrói as pessoas da sociedade na imagem das pessoas e, depois, os juízes vão julgar e falar: 'eu não posso ir contra a opinião pública, porque a opinião pública tá pedindo pra caçar'. Quem quiser votar com base na opinião pública largue a toga e vá ser candidato a deputado. Escolha um partido político e vá ser candidato. A toga é o emprego vitalício. O cidadão tem que votar apenas com base nos autos do processo.” 

Lula também pediu que que o juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato em 1ª instância, mostre alguma prova contra ele e disse dormir com a consciência tranquila. "Eu não tenho medo deles, eu até já falei que gostaria de fazer um debate com o Moro sobre a denúncia que ele fez contra mim, gostaria que ele me mostrasse alguma prova. Qual o crime que cometi neste país? [...] porque sonhei que era possível governar esse país envolvendo milhares de pessoas pobres na economia, dar vagas nas universidades e empregos para os pobres?", questionou.

"Eu sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e colocá-lo nas melhores universidades desse país para que a gente não tenha juízes e procuradores só nascidos na elite. Daqui a pouco teremos juízes e procuradores nascidos na favela de Heliópolis", afirmou.

"Nenhum deles [Moro, Dallagnol] tem coragem ou dorme com a consciência tranquila, com a honestidade e inocência que eu durmo, nenhum deles. Eu não estou acima da Justiça, se eu não acreditasse da Justiça, eu não teria feito um partido político, teria proposto revolução. Acredito na Justiça, mas na a Justiça justa, baseada nas acusações, na prova concreta. Eu não posso admitir um procurador que fez um PowerPoint dizendo que o PT é uma organização criminosa criada para roubar o país e que o Lula é o chefe, 'eu não preciso de provas, eu tenho convicção', disse ele. Eu quero que ele guarde a convicção dele para os comparsas e asseclas dele. Não pra mim", disse.

Lula também falou sobre a continuidade dos protestos promovidos pelos movimentos sociais depois do cumprimento do mandado de prisão. "Tenho certeza que os companheiros sem-terra, do MTST, da CUT, do movimento social sabem, e essa é uma prova, eu vou cumprir o mandado e todos vocês vão virar Lula e vão andar por esse país, fazendo o que têm que fazer. 

Nós vamos fazer uma regulação dos meios de comunicação para que o povo não seja vítima das mentiras todo santo dia. Eles têm que saber que vocês, quem sabe, que são até mais inteligentes do que eu, poderão queimar os pneus que vocês tanto queimam, fazer as passeatas, fazer as ocupações no campo e na cidade", disse. "Quanto mais eles me atacam mais cresce minha relação com o povo brasileiro", completou.

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