Horas depois do vazamento de um áudio atribuído a Chico Pinheiro, em que o jornalista critica o juiz federal Sergio Moro e defende Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo, disparou um e-mail com tom de advertência aos jornalistas da emissora.
“O maior patrimônio do jornalista é a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese, pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico”, diz o texto, que segue um alerta sobre o uso das redes sociais. Ele relembra a repreensão já feita no ano anterior, relacionada à postagem de fotos de jornalistas em que marcas apareciam, dando a ideia de publicidade — alfinetada que estaria ligada ao casamento de César Tralli e Ticiane Pinheiro.
“Daí porque não se pode expressar essas preferências publicamente nas redes sociais, mesmo aquelas voltadas para grupos de supostos amigos. Pois, uma vez que se tornem públicas pela ação de um desses amigos, é impossível que os espectadores acreditem que tais preferências não contaminam o próprio trabalho jornalístico, que deve ser correto e isento.”
Kamil usa como exemplo o fato de que repórteres que expressam opiniões políticas na rede, mais tarde, perderão a credibilidade quando for a hora de entrevistar candidatos. “A Globo é apartidária, independente, isenta e correta. Cada vez que isso acontece, o dano não é apenas de quem se comportou de forma inapropriada nas redes sociais. O dano atinge a Globo. E minha missão é zelar para que isso não aconteça. Portanto, peço a todos que respeitem o que está em nossos Princípios Editoriais: e nos dos jornais sérios de todo o mundo.”
O diretor diz que se solidariza com as vítimas de vazamentos: “Dizem que foram mal interpretadas. Não importa, o dano está feito”.
Por fim, ele relembra parte do código de conduta da casa. “Os jornalistas são em grande medida responsáveis pela imagem dos veículos para os quais trabalham e devem levar isso em conta em suas atividades públicas, evitando tudo aquilo que possa comprometer a percepção de que exercem profissão com isenção e correção.”
Histórico:
Um áudio de pouco mais de três minutos atribuído ao jornalista Chico Pinheiro foi divulgado em um grupo fechado de WhatsApp e ganhou a internet. Em tom de desabafo, o áudio critica a ação do juiz Sergio Moro ao decretar a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).A VEJA, o jornalista não confirmou nem desmentiu que o áudio seja de sua autoria. “Nada tenho a dizer a respeito”, respondeu Pinheiro.
“Ele precisa sair, sim, mas vai sair na hora que for a hora. Que Lula tenha calma, sabedoria, inspiração divina, para ficar quieto ali um tempo, onde está”, diz sobre a possível soltura do ex-presidente. “Se pensarmos bem, aquela acomodação é melhor que todos os lugares em que ele dormiu quando era criança e na juventude.”
O áudio continua, pedindo que Lula fique como está, quieto, por um tempo, pois, com sua prisão, “a direita não tem o que fazer”. “Os coxinhas estão perdidos. Precisam de outro caminho agora”, diz. “Como ele disse (sobre o discurso de Lula no sindicato, antes da prisão), não sou mais um ser humano, sou uma ideia. Ideia não se prende, a gente tá solto.”
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