O PARTIDO DOS TRABALHADORES “estancou a queda” que vinha sofrendo nas urnas desde 2016. Mas, para seguir relevante, precisa rejuvenescer e recuperar o trabalho de formação de bases que foram seu diferencial nos primeiros anos de vida, afirma o senador e ex-governador da Bahia Jaques Wagner, de 69 anos.
O PT sai das urnas em 2020 pequeno como nunca em eleições municipais. Fundada em 1980, a legenda jamais havia deixado de eleger ao menos um prefeito em capitais desde que as eleições nessas cidades passaram a ser diretas, em 1985. Aconteceu agora.
Apenas 183 cidades brasileiras serão governadas a partir de 2021 por um prefeito petista. Comparado com o resultado eleitoral de 2012, é uma queda de impressionantes 71% – naquele ano, o PT saiu das urnas com o comando de 637 municípios. Mas em 2012 a economia apenas começava sua trajetória de queda e não se imaginava que dali a um ano as ruas seriam tomadas primeiro por jovens furiosos com aumentos do preço do transporte público e depois pela classe média empunhando bandeiras moralistas. E lava jato ainda era apenas o termo usado nalgumas regiões do país para o serviço de lavagem de automóveis.
Mesmo comparado com 2016, auge da operação que àquela altura já tinha pintado um alvo nas costas de Lula, o PT encolheu nas prefeituras. Naquele ano, foram 255, quase 40% mais que agora. Também é verdade que, por outro lado, o partido ao menos parou de perder votos – de menos de 13 milhões em 2016, passou a 14 milhões em 2020.
A presidente do PT, a deputada federal paranaense Gleisi Hoffmann, tentou enxergar boas notícias nos resultados. Wagner é mais realista. “Óbvio que tem problemas, que não tivemos um desempenho exuberante. Em São Paulo, fizemos quatro prefeituras”, avaliou, numa entrevista de mais de uma hora ao Intercept. O estado tem 645 cidades.
Apesar de tentar minimizar o mau resultado (“Quem é que vota num prefeito porque ele é do PSDB ou do PT? Essa é outra tentativa de jogar poeira nos olhos das pessoas”), Wagner não se furtou a uma análise dura sobre a atual situação do PT e da esquerda.
‘A gente ainda não atualizou a agenda do mundo do trabalho’.
“O PT foi fundado num mundo que está indo cada vez mais embora. Por isso é que falo que precisamos de uma mudança geracional”, falou. “A gente ainda não atualizou a agenda do mundo do trabalho”, admitiu, questionado sobre como um partido nascido no sindicalismo de categorias numerosas fará para se conectar com um trabalhador cada vez mais informal e uberizado.
Essa mudança já está se manifestou eleitoralmente com a ascensão de Guilherme Boulos, que o senador considera o líder da esquerda brasileira “com a visão mais antenada com os problemas contemporâneos”. “Boulos pisa um movimento que é típico da sociedade contemporânea, de moradores de rua, sem teto. O dia a dia dele é na rua. Acho que ele tem essas vantagens comparativas: a da geração [a que pertence] e do tipo de movimento que ele tem”.
Wagner também fez avaliações fadadas a despertar a ira de boa parte da esquerda, como a de que a chamada “agenda identitária” ocupou, a seu ver, lugar excessivo na pauta política e que isso, segundo ele, isso teria acuado setores mais conservadores que em seguida se identificaram com a língua chula de Jair Bolsonaro.

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