sábado, 26 de setembro de 2020

GOVERNO TRUMP CORRE PARA DESTRUIR PROTEÇÕES AMBIENTAIS

 

ENQUANTO INCÊNDIOS FLORESTAIS destroem milhões de hectares nos estados da Califórnia, Oregon e Washington, e uma série de furacões sem precedentes causa enchentes históricas no Sul dos EUA, deixando partes da região inabitáveis, o governo Trump tem corrido para reverter as regras criadas para prevenir exatamente esses tipos de desastres climáticos.

Ao longo de seu governo, Donald Trump presidiu sobre a reversão de mais regras e regulamentações ambientais do que qualquer outro presidente. O resultado foi que, mesmo que a mudança climática esteja a caminho de expulsar milhões de americanos de suas casas em breve e, por fim, aquecer a Terra a temperaturas não vistas há 34 milhões de anos, o líder do país com maior responsabilidade pelas alterações do clima redobrou o trabalho de dizimar os esforços que visavam a combater a poluição e a crise climática.

“O governo Trump é o primeiro na história da agência a se dedicar de forma tão implacável a uma agenda de reversão das regulações, sem sequer ter a pretensão de reduzir significativamente a poluição ambiental”, diz John Walke, advogado e conselheiro sênior do Fundo de Ação NRDC.

Começando pela escolha de Scott Pruitt, um negacionista das mudanças climáticas cuja ascensão na política do Oklahoma foi impulsionada pela indústria de petróleo e gás, para dirigir a Agência de Proteção Ambiental, EPA, Trump sinalizou seu desprezo pelo clima e pela saúde pública ao longo do seu tempo no poder. Embora Trump tenha chamado as mudanças climáticas de “farsa chinesa” e “golpe”, as agências federais sob seu comando tomaram inúmeras ações — desde a remoção de informações sobre mudanças climáticas no site da EPA até a decisão de se retirar do acordo climático de Paris; o reequipamento de modelos usados pelo Serviço Geológico dos EUA; e o cancelamento do programa de monitoramento de carbono da NASA — que atrasou os esforços para enfrentar a crise climática e, em última análise, colocou em risco o meio ambiente.

Nos últimos meses, o ritmo desses ataques aumentou. Os esforços frenéticos das agências federais durante os últimos meses antes de uma eleição presidencial são frequentemente chamados de “regulamentação da meia-noite”. Mas o trabalho que o governo Trump vem correndo para concluir seria descrito de forma mais precisa como “desregulamentação da meia-noite”.

Uma placa com o trocadilho “Trump digs coal” (“Trump gosta de carvão” ou “Trump escava carvão”) pode ser visto em uma fábrica na região mineira de Hazleton, Pensilvânia, em 2 de fevereiro de 2017. Foto: Maren Hennemuth/Picture Alliance/Getty Images

Proteções obliteradas

Tão logo assumiu o cargo, Trump deu início às reversões ambientais que provavelmente serão o legado mais duradouro de seu governo. Em março de 2017, a EPA sinalizou que não iria concluir a proibição planejada de um pesticida neurotóxico chamado clorpirifós. A decisão veio após ouvir de perto grupos ligados à indústria, e veio depois que a Dow Chemical Company, que fabrica o pesticida, doou US$ 1 milhão ao comitê responsável pela posse de Trump. Sob Trump, a EPA concluiu desde então dezenas de outras reversões ambientais, incluindo a destruição da Lei da Água Limpa; o enfraquecimento de restrições às instalações que emitem poluição tóxica no ar; a revogação de uma regra que exigia que empresas mineiras reservassem dinheiro para cobrir os custos da limpeza da poluição gerada; a reescrita da Lei de Política Ambiental Nacional de forma que ela não exija mais que o governo considere os impactos ambientais cumulativos de seus grandes projetos nas comunidades afetadas; e a busca por garantir que a indústria do carvão possa despejar resíduos de mineração em rios.

Entre as ações finalizadas recentemente que terão consequências devastadoras e duradouras no clima está a rescisão dos limites de emissão do metano durante a produção e processamento de petróleo e gás. O metano é um poluente climático que retém 80 vezes mais calor do que o dióxido de carbono em um período de 20 anos, e os EUA já estão liberando uma quantidade excessiva desse gás. A reversão das regras do metano, que foi finalizada em agosto — e contestada por muitas das principais empresas do petróleo que serão afetadas por isso — é projetada especificamente para ignorar as considerações com o clima e deve aumentar a quantidade de gás de efeito estufa liberada anualmente em até 4,5 milhões de toneladas. A poluição adicional terá o mesmo impacto anual de 100 usinas elétricas a carvão, segundo o Fundo de Defesa Ambiental, que está processando o governo por conta da regra.

O enfraquecimento dos padrões da EPA para economia de combustível para carros e caminhões leves, que foi finalizado em março enquanto a maioria das pessoas estava focada na pandemia de coronavírus, também vai acelerar as mudanças climáticas e levar a mais eventos climáticos catastróficos e incêndios florestais. A mudança, que reduz a eficiência do combustível para esses veículos em 27%, deve resultar em pelo menos 867 milhões de toneladas a mais de poluição por dióxido de carbono, o equivalente às emissões anuais de 216 usinas de carvão.

A EPA também reverteu sua política de exigir que as empresas inspecionem se há vazamentos em geladeiras e condicionadores de ar. A revisão às regulamentações, concluída em fevereiro, afeta a liberação de hidrofluorcarbonos, produtos químicos que podem causar centenas de vezes mais aquecimento do que o dióxido de carbono e, com frequência, vazam de equipamentos de refrigeração. De acordo com a ciência da própria agência, a nova regra vai resultar em um aumento de emissões de gases de efeito estufa que tem o mesmo potencial de aquecimento de 2,9 toneladas de dióxido de carbono a cada ano.

Enquanto isso, o Departamento do Interior finalizou seu plano para abrir o Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico do Alasca para a perfuração de petróleo, uma medida que os ambientalistas acreditam ser devastadora não só para as 700 espécies de plantas e animais que vivem lá, mas também aumentar muito as emissões de carbono. Em 2018, a Comissão Regulatória Federal de Energia limitou sua consideração de gases de efeito estufa de projetos de gás natural. E, por meio de uma ordem executiva, Trump enfraqueceu as regulamentações que haviam sido postas em prática para mitigar inundações causadas pela elevação do nível do mar.

Talvez o mais devastador seja a perda do Plano de Energia Limpa. O projeto do governo Obama foi desenhado para reduzir a poluição climática em mais de 400 milhões de toneladas até 2030. Em vez disso, Trump substituiu o plano pela Regra da Energia Limpa Acessível, muito mais fraca, em 2019.

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