quarta-feira, 31 de maio de 2017
Bahia tem 18 reservatórios de água com menos de 30% do volume
A chuva que atingiu cidades do litoral da Bahia nos últimos dias serviu para aliviar a situação de quem anda de olho nas barragens que atendem à região. Mas, mesmo assim, a situação dos reservatórios que abastecem cidades da Bahia é complicada. De acordo com o relatório mais recente de situação das barragens, divulgado anteontem, 18 reservatórios da Bahia estão em situação crítica - têm menos de 30% do volume útil disponível.
Os dados são do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e apontam que a situação afeta quase 34% do total de 53 reservatórios do estado. Já a avaliação de que a situação é crítica é do superintendente de Operação e Eventos Críticos da Agência Nacional de Águas (ANA), Joaquim Cardim.
Como exemplo, ele cita a situação da Barragem do Sobradinho, operada pela Chesf, que tinha somente 13,2% do volume útil disponível.
“O volume útil de Sobradinho hoje é de 13% e existe uma perspectiva que ele atinja o zero ainda este ano. Nós não devemos entrar no volume morto de Sobradinho, que é uma das reservas estratégicas que existe para abastecer a comunidade alimentada pelo São Francisco”, explica Cardim.
Menor vazão Segundo a Chesf, a ANA e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autorizaram um novo teste de redução de vazão nas usinas de Sobradinho e de Xingó (SE) para o limite de 600m³ por segundo. O objetivo é garantir o uso múltiplo das águas, priorizando o abastecimento humano e a produção de alimentos, nesse momento crítico.
De acordo com a ANA, esse é o menor patamar de vazão mínima já praticado nos reservatórios da bacia do rio São Francisco, que atravessa um período crítico. “De outubro de 2016 a meados de maio de 2017, choveu 51% abaixo da média, o que faz do período chuvoso de 2016/2017 o pior ano hidrológico para a Bacia do São Francisco. O último ano de precipitação acima da média foi em 2011. Desde então, tem chovido abaixo da média em todos os anos”, diz a nota.
Além de Sobradinho, os outros 17 reservatórios em situação crítica são: Apertado (8,15%), Pedra do Cavalo (23,46%), São José do Jacuípe (9,55%), Pedras Altas (18,97%), Ponto Novo (12,75%), Quicé (22,28%), Luiz Vieira-Brumado (19,79%), Pedra (25,78%), Riacho do Paulo (0%), Rio do Antônio-Lagoa do Braço (0%), Truvisco (17,46%), Estreito (23,58%), Itaparica (18,6%), Mirorós (13,12%), Pinhões (15,41%), Adustina (2,02%) e Serra Preta (28,65%).
Pedra do Cavalo é a principal fonte de abastecimento da capital baiana, responsável por 60% do total de água distribuída. Os outros reservatórios que alimentam em Salvador, se recuperaram e saíram do estado crítico. Mesmo assim, a Embasa ainda não descarta a possibilidade de racionamento.
A situação deles se junta à de 34 municípios baianos já em regime preventivo de racionamento de água. “Na prática, os municípios submetidos ao regime preventivo de racionamento contam com um volume menor de água para distribuição, ou seja, os imóveis terão água nas torneiras em menos dias da semana”, explica a Empresa Baiana de Água e Saneamento (Embasa).
A Embasa, ligada ao governo do estado e responsável pelo abastecimento em 366 municípios baianos, não informou quais em racionamento são servidos pelos reservatórios críticos.
A empresa, no entanto, disse que o estado do reservatório não está diretamente ligado ao racionamento, já que há locais abastecidos por poços, que também enfrentam a crise. Dos 18 reservatórios abaixo de 30%, dois são operados pela Embasa: Rio do Antônio-Lagoa do Braço e Serra Preta. Os demais são de órgãos estaduais e federais, além da Chesf.
Para Lafayette Dantas da Luz, doutor em Engenharia Ambiental e professor do mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento da Universidade Federal da Bahia (Ufba), é preciso torcer para chover, mas a culpa da crise nos reservatórios não é só da falta de água que cai do céu.
“A visão dos administradores é culpar apenas a chuva, ninguém pensa que se desmata abusivamente. Existe uma agricultura predatória que desmata para plantar e degrada o solo. Aumentar o número de barragens e poços não resolverá o problema, isso só repete problemas mais à frente. Enquanto não pensarmos em reflorestar nossas bacias, teremos riscos futuros”, pontua.
Das 18 bacias em estado de atenção, cinco estão na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, no Norte do estado. Outras três estão na Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu, três na Bacia Hidrográfica do Rio Itapicuru, cinco na Bacia do Rio de Contas - sendo que duas delas estão com 0% do seu volume útil: as de Riacho de Paulo e da Lagoa do Braço.
Atualmente, há no estado da Bahia 223 municípios em estado de emergência devido à seca ou estiagem. A população afetada na Bahia é de mais de 4,2 milhões de pessoas.
Segundo o meteorologista do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) Heráclio de Araújo, em maio, as chuvas na Bahia se concentram na parte leste: Litoral Norte, Zona da Mata e no agreste, contemplando uma linha que vai de Serrinha, Alagoinhas até a divisa com Sergipe. Nessas regiões, o quinto mês do ano é o período de maior precipitação.
“Este ano, tivemos déficit de chuvas na parte Norte e Litoral Norte do estado em torno de 30%. Normalmente, chove entre 150 mm a 250 mm desde o Recôncavo até a divisa de Sergipe, mas, neste mês, os maiores volumes não superaram 150 mm e se concentraram próximo à região do Recôncavo, Salvador e RMS”.
A mesma situação acontece na região da Chapada Diamantina, em que eram esperados cerca de 20 dias de chuva e só tiveram 10 ou 12 no mês de maio.
A única área do estado que apresentou chuvas acima do esperado foi o Extremo-Sul. Na região de Teixeira de Freitas e Caravelas, onde se espera para o mês de maio uma média de 150 mm, já choveu quase 200 mm, segundo Araújo.
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