terça-feira, 17 de setembro de 2019

Noiva grávida morre antes de entrar na igreja e filha nasce saudável: ‘É uma saudade imensa’



Uma noiva grávida, de 30 anos, morreu pouco antes de entrar na igreja, em Guarulhos (SP), na noite de sábado (13). Jéssica Victor Guedes estava grávida de 29 semanas. O parto foi feito às pressas, a pequena Sophia nasceu saudável, mas a mãe não resistiu. Ao BHAZ, o pai da criança e marido de Jéssica, que é militar, relata que chegou a fazer os primeiros socorros ainda no local, que precisou levar a mulher em duas unidades de saúde e como está superando tudo isso.

O noivo, Flávio Gonçalves da Costa, de 31 anos, é tenente do 46º Batalhão de Polícia Militar do Estado de São Paulo. “Eu estava no Dia do Noivo, aí liguei para uns amigos do Corpo de Bombeiros. Pedi para chegar no casamento na viatura dos bombeiros, no caminhão. Eles falaram que tudo bem, que seria uma grata satisfação. Chegaríamos com a sirene ligada, tudo certinho. Porém, à noite, me mandaram uma mensagem explicando que iriam atender um incêndio em residência, aí não teria mais como me ajudar. Eu falei que tudo bem, e fui para a igreja”.


Ao chegar à igreja, o noivo cumprimentou todo mundo. “Fiquei aguardando o carro com a minha noiva chegar. Depois de algum tempo, o carro chegou. Aí me preparei para recebê-la, e também aos padrinhos. Ela não descia, estava demorando muito. Foi aí que uma prima dela me avisou que ela havia desmaiado”, explica.
Com a notícia, o tenente saiu correndo para ampará-la. “Abri a porta do carro e ela estava caída, mas ainda conversava comigo. Eu falei com ela: ‘amor, eu estou aqui’. Ela respondia que estava tudo bem, mas que estava com uma dor forte na nuca. Naquele momento, me tornei um socorrista, como fui durante sete anos no Corpo de Bombeiros”, explica.
Vários amigos do Corpo de Bombeiros se juntaram ao tenente para socorrer Jéssica. “Aquele pedido que fiz, para chegar no carro dos bombeiros, acabei precisando para sair de lá. Fomos para um hospital da rede de convênio dela, que não tinha recursos. Aí tivemos que ir para outro, que pode recebê-la”, explica.

                               Noiva não resiste

No hospital, fizeram um parto de emergência, e os médicos conseguiram salvar a criança. A pequena Sophia nasceu com 930 gramas e 34 centímetros. “Infelizmente, o meu amor teve morte cerebral. Ela pediu para que doássemos seus órgãos, e fizemos isso. Foi uma madrugada difícil. Hoje [nesta terça-feira] vamos velá-la”.
“Estou o tempo todo com a minha filha, fazendo um carinho nela e pedindo a Deus pelo melhor. Estou me apegando aos amigos, familiares, que têm me dado forças e conselhos nesse momento difícil”, explica.
Flávio e a filha voltam hoje para casa. “Vou vestir a mesma farda que vesti no dia do casamento, pedir para todos os meus amigos militares irem fardados, que era assim que ela gostava. Vamos fazer uma homenagem, dentro de suas crenças, e cantar a música que ela tanto quis, que é ‘Os Anjos Cantam’, do Jorge e Matheus”.

                                         Vaquinha

O tenente explica que está em uma briga com o convênio, por isso iniciaram uma vaquinha on-line (doe por aqui), para arcar com os custos. “Estamos em atendimento particular, então tudo é cobrado. Parto, operação para salvar minha noiva, internação, tudo. Ainda temos os custos da funerária, como compra do jazigo, enterro, tudo que envolve esse momento. Depois de um casamento custoso, nos pegamos sem recursos financeiros para lidar com isso”.
Além de tudo isso, Flávio também precisa de cuidados especiais com a filha que, mesmo tendo nascido com boa saúde, é prematura. “Hoje ela abaixou o peso dela, mas é uma guerreirinha. Está alegre, dentro do possível. É muito esperta, e é isso que me motiva”.
“Quero levar a minha história, que não é melhor ou pior que a de ninguém. É muita luta, muita fé. Sei que, se eu fraquejar e não for o alicerce da minha família, nada vai para frente. Agora sou pai e mãe. Sigo me apegando a Deus, à palavra, e aos meus amigos. Não é fácil, às vezes a gente chora, tenta dar uma risada de uma lembrança. Assisto vídeos para me recordar”, continua o tenente.

‘Filme que não acaba’

Para Flávio, ele está preso em um filme que não acaba. “Imagine só você entrando em um cinema e assistindo a um filme muito triste. Quando acaba o filme, você fica aliviado, foi só uma ficção. Vamos tomar um suco, um sorvete e ir embora. Só que eu estou dentro desse filme. É uma saudade imensa”.
“Eu não sei como estou tão forte, tão ciente de tudo, sem pensar em cometer nenhuma besteira. Quero me fortalecer mais e tentar levar essa palavra para todos. Por mais que você tenha problemas, é melhor resolver tudo em vida. A gente consegue superar tudo, menos a morte. Isso eu provei na pele”, desabafa.
Flávio completa dizendo que a noiva é um “ser de luz”. “Uma pessoa realmente iluminada. Uma mulher forte, guerreira. Eu acho que em três dias que estou nessa luta, amadureci muito. Nem sei se é possível amadurecer tanto em três dias, e se tornar uma rocha. É difícil, muito difícil. Temos que estar juntos com os amigos, família e com muita fé”, completa.

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