segunda-feira, 25 de março de 2019

Vereadora Marcelle Moraes afirma ter sido vítima de “racismo”; CEN reprova

A vereadora Marcelle Moraes (sem partido) afirmou ter sido vítima de “racismo”, nesta segunda-feira (25/3). Segundo ela, algumas pessoas de um grupo de religião de matriz africana, que protestava em frente à Câmara Municipal de Salvador (CMS), a chamaram de “escrota branca”.
                                                  Crédito da Foto: reprodução
“Fiquei muito assustada quando recebi as imagens. Estou sofrendo agressão verbal e psicológica por defender os animais. Hoje eu fui vítima de racismo por parte de um grupo religioso que se diz contra a intolerância. Isso é muito grave. Fui chamada de racista e “escrota branca”, sendo que eu tenho um relacionamento de três anos com um homem negro. O meu noivo é negro. Isso não tem fundamento”, disse Marcelle, por meio de comunicado à imprensa.
                  
O protesto, que continuou durante o pronunciamento da edil em sessão ordinária, hoje, tem como motivação um pedido feito por ela na última terça-feira (19/3). Após um minuto de silêncio em razão da morte da líder religiosa Makota Valdina, Marcelle pediu para que fosse incorporada ao ato uma homenagem à memória de um hipopótamo do zoológico de Salvador, o que foi visto por muitos como uma atitude desrespeitosa, na ocasião.
Na última quarta (20/3), a vereadora divulgou nota dizendo que nunca teve a intenção de desrespeitar a memória de Makota e pediu que a homenagem para o animal fosse retirada da ata da sessão do dia anterior. Contudo, na sessão desta segunda, ela voltou a fazer a referência, mesmo em meio aos protestos. Em determinado momento, os manifestantes se viraram de costas para o plenário enquanto Marcelle falava.
Ainda no comunicado emitido pela vereadora, ela alega que muitos não a compreendem, mas que vai “continuar lutando”. “Os animais têm voz nessa cidade. Eles não vão me intimidar. Eu fui xingada, desrespeitada e agredida, mas vou continuar defendendo os animais. Fui eleita para isso. Enquanto eles insistem em matar eu insisto em proteger”, falou.
MOVIMENTO NEGRO
Segundo o Coordenador-geral do Coletivo de Entidades Negras (CEN), Yuri Silva, Marcelle “não pode usar o  termo ‘racismo’, porque este se baseia em um sistema de opressão de uma raça sobre a outra”. Ele diz, ainda, que os negros não estão, nem nunca estiveram, em situação de superioridade em relação aos brancos. Assim, “não existe racismo reverso de negros contra brancos. É muito triste que ainda tenhamos que explicar isso”.
Ao Aratu On, Silva explica que o que Marcelle passou “foi um repúdio por um ato racista e intolerante que ela teve de associar uma liderança como Makota Valdina a um animal, e é muito importante que atitudes como a dela sejam repudiadas e deslegitimadas”. O CEN emitiu, inclusive, nota de repúdio à atitude da edil, na semana passada.
Leia abaixo, na íntegra:
O Coletivo de Entidades Negras – CEN repudia com veemência a atitude de desrespeito e racismo da vereadora de Salvador Marcelle Moraes, que aproveitou uma homenagem feita na Câmara Municipal à líder religiosa, professora e líder comunitária Makota Valdina para lamentar a morte de um hipopótamo. Marcelle, que tem a pauta dos animais como sua suposta bandeira política, seguiu, ao adotar tal postura, o histórico de desrespeito ao povo negro e de candomblé iniciado com a atuação parlamentar do seu irmão, o hoje deputado estadual Marcell Moraes.
Desrespeitar a memória e o legado da importante Makota do Terreiro Nzo de Onimboyá Valdina de Oliveira Pinto, que fez a passagem para o Reino de Nzambi na última terça-feira, 19 de março, é tão grave quanto as proposições de Marcell a favor da proibição do abate de animais para fim de sacralização. Ou a uma campanha publicitária, patrocinada pelo mesmo deputado, na qual as imagens exibidas em outdoors pela cidade comparavam um homem negro a um cão.
Não aceitaremos mais esse tipo de ataque ao povo negro sem que a Justiça seja acionada. Acreditamos, ainda, que é preciso acionar oficialmente os organismos ligados à pauta racial no próprio Legislativo Municipal, como a Comissão Parlamentar da Igualdade Racial.
As várias dimensões do racismo brasileiro, o que inclui o racismo religioso, podem se manifestar de formas variadas, todas elas repugnantes. Uma das mais comuns é aquela camuflada sob um verniz de proteção a outras pautas – no caso dos irmãos Moraes, a questão dos animais.
O objetivo de tais ataques, contudo, estão cada vez mais evidentes: atacar nossa memória, história e destruir tradições que nos constituem enquanto povo. Mas a época do diálogo chegou ao fim! Basta de racismo! Exigimos retratação de Marcelle Moraes imediatamente!

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